Uma homenagem às mulheres cientistas
Para que mais e mais mulheres possam fazer a diferença na ciência e na sociedade
Kharen Stecca, Luciana Santal, Mariza Fernandes e Versanna Carvalho
Apenas 40% das pesquisadoras doutoras no Brasil são mulheres, segundo um levantamento feito pelo Open Box da Ciência. Elas são maioria na área de Saúde e Línguas, Letras e Artes. No entanto, são apenas 26% das pesquisadoras na área de Engenharia. Mesmo nas áreas em que se destacam, tendem a ter mais dificuldades na carreira ao longo dos anos e com a chegada dos filhos, seja no número de publicações, seja na ocupação de cargos de chefia. Para mudar esse quadro é preciso um trabalho intenso desde a Educação Básica e contínuo, pois a mudança precisa perpassar as estruturas do trabalho e até mesmo da família.
Mudar esse quadro não é simples e nem rápido, mas há mulheres que podem nos inspirar nessa mudança. No mês em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher (8 de março) a Universidade Federal de Goiás, em parceria com o shopping Passeio das Águas, escolheu 20 professoras que têm feito a diferença, demonstrando o potencial do papel da mulher na Ciência. Muitas, inclusive, tiveram grande atuação com iniciativas que vêm auxiliando no combate à pandemia, outras se destacam justamente por projetos de incentivo à participação feminina na Ciência. Essas são só algumas das muitas mulheres de destaque na UFG. Mas por elas homenageamos a todas as mulheres que desejam um mundo mais justo e igualitário e também incentivamos que mais e mais mulheres possam se sentir empoderadas e fazer a diferença na vida de outras tantas mulheres.
As homenageadas deixaram um recado para os leitores do Jornal UFG salientando a importância das mulheres serem incentivadas a fazerem ciência. Confira!
“Apesar dos avanços e de ter aumentado a representatividade feminina na ciência, ainda há uma minoria de mulheres no meio científico. Incentivar as mulheres a fazer ciência é essencial para promover a igualdade e favorecer a diversidade. É por meio da ciência que promovemos o desenvolvimento do nosso país, da nossa realidade. A ciência é capaz de transformar uma sociedade e apontar soluções e é por meio da diversidade que ela se fortalece. Diante da pandemia da Covid-19 ficou evidente o quanto as mulheres estão contribuindo para a ciência e para o enfrentamento dessa doença”.
“Incentivar mulheres a fazer ciência é importante para quebrar o estereótipo da mulher somente cuidadora do lar, ainda arraigado na cultura brasileira. As mulheres devem perceber que podem ser cientistas sem deixarem de ser esposas ou mães, por exemplo. É importante também para que meninas cresçam com sentimento de representatividade na ciência, estimulando-as a seguir esta carreira. Defender o direito da mulher ser cientista é sonhar com o direito de uma família mais equacionada, com homens e mulheres com mesmos direitos no trabalho e iguais deveres no lar.”
“A mulher na ciência, como em muitas áreas profissionais, vivencia uma desigualdade. Promover o acesso igualitário da participação da mulher na ciência deve ser um compromisso social e econômico. É preciso dar voz e condições para que as mulheres possam mostrar seu brilhantismo na pesquisa. A ciência chama por mulheres corajosas, questionadoras, curiosas e que buscam transformar o mundo. A ciência chama por você. Acredite, nós somos capazes, nós podemos!”
"Ao longo da história, as mulheres lutam contra preconceitos para atuar no campo da ciência. Ainda não é fácil mesmo em pleno século XXI, mas a competência, dedicação e brilhantismo das mulheres vem quebrando barreiras e são notáveis as suas contribuições nas mais diversas áreas da ciência, incentivando e formação de novas pesquisadoras.”
"As mulheres devem participar ativamente em todas as áreas e setores da sociedade. Uma vez que a ciência é um dos mais importantes pilares estruturantes de uma sociedade, devemos incentivar mulheres e meninas a seguir uma vida profissional na área da ciência. Assim teremos uma sociedade mais desenvolvida, ancorada na ciência e na equidade e, acima de tudo, contando com a competência de todos, independente de gênero".
"Os estereótipos de gênero no campo científico, infelizmente, são incutidos em nós desde cedo, seja na escola, na família ou meio social. No sentido de reverter essa condição, precisamos reforçar cada vez mais a compreensão de que as habilidades necessárias para uma carreira científica podem ser desenvolvidas independentemente do gênero. Fazer ciência é uma habilidade que se adquire buscando conhecimentos, e que teoricamente homens e mulheres deveriam ter. Nós podemos tudo, e se podemos, devemos buscar esse espaço na ciência".
"Ciência é um somatório de conhecimentos que viabilizam avanços determinantes na qualidade da vida humana, em todas as suas facetas. Desafiadora e colaborativa, inquieta e curiosa, em sua essência a ciência é alimentada pela diversidade. A ciência é apaixonante! E assim, ao longo da história, mulheres se encantaram com este surpreendente universo de descobertas, conquistando destacado papel. Por isso é que, cientes da necessidade constante de evolução, seguimos contribuindo com nosso trabalho e dedicação".
"As mulheres têm capacidade e potencial para ajudar no desenvolvimento da ciência e avanço da fronteira do conhecimento, entretanto a presença das mulheres na ciência ainda esbarra em preconceitos e no machismo de uma sociedade que insiste em não valorizar suficientemente o papel da mulher na ciência. Ainda precisamos incentivar a valorização da mulher na ciência para que estejamos em pé de igualdade dos homens. Além disso, precisamos ser mais respeitadas! Ainda existe muito preconceito!"
“A ciência mundial é ensinada e produzida a partir de contextos do ocidente que prometem uma visão neutra e privilegiada e que ignora as demandas políticas, desigualdades de raça e gênero construídas na história da humanidade. Desta forma, as representações sobre ciências são geralmente formadas pela imagem do homem branco e europeu. O que conhecemos hoje como ciência foi assim estabelecido pela invenção da modernidade que é sinônimo de racismo e de colonização e assim segue cristalizando lugares de alocação pré estabelecidos. Justo por esses motivos importa incentivar as mulheres, sobretudo as negras para que escolham as carreiras de C&T. A inserção destas na ciência agrega perfis mais dinâmicos e abrangentes de se pensar e produzir soluções permitindo produzir melhores respostas para a sociedade como um todo. Isso de fato é Inovação!”
"Nos cursos de formação tecnológica e exatas ainda temos pouca participação de meninas. Assim, nosso papel enquanto UFG e EECA é mostrar para as estudantes do ensino fundamental e médio que meninas também podem ser Engenheiras e Cientistas. Nossas ações tem dois focos importantes: (1) dar destaque para as mulheres e suas pesquisas na área tecnológica criando um ambiente de maior representatividade feminina de tal forma que estimule as meninas a seguirem carreira profissional nestas áreas e (2) fortalecer e apoiar as meninas que estão nestes cursos, principalmente, superando as barreiras de gênero que afetam sua autoestima ao longo de suas vidas. Um terceiro aspecto que poderia ser acrescentado é a própria valorização e visibilização das mulheres que estão na docência [ensino, pesquisa, extensão e gestão] nas engenharias. Nesse caso as ações visam despertar tanto homens quanto mulheres para a importância do respeito mútuo, cooperação e de ações ativas para superação das violências de gênero no ambiente de trabalho. Sobre isto, além da representatividade, devemos adotar uma linguagem não ofensiva e desnaturalizar aquilo que se apresenta como violência psíquica ou sutil. Exemplifica isto falas tais como: "ela é tão bonitinha para estar aqui"; "ela não tem um pulso forte" etc. É preciso criar empatia e fortalecer um ambiente de crescimento mútuo e saudável para todos e todas. As mulheres cientistas têm muito a contribuir com a engenharia e a sociedade!."
“A participação das mulheres na ciência deve ser permanentemente divulgada entre nossas discentes porque a representatividade feminina é fundamental para motivar as jovens a seguir carreiras na ciência. Como gestora, docente, pesquisadora, nos vimos no papel de incentivar, divulgar, apoiar as ações e buscar meios que favoreçam a participação das mulheres na ciência.”
“Apesar dos avanços nas últimas décadas, ainda precisamos atuar para obtermos maior paridade na participação de homens e mulheres na ciência. Dentro da carreira acadêmica, o número de mulheres (principalmente em carreiras de exatas) vai diminuindo à medida em que o nível de pesquisa se torna mais complexo. Sem contar com a queda na produtividade e financiamentos de pesquisa após as pesquisadoras se tornarem mães. Para revertermos esse quadro gradativamente, se faz necessária a atuação mais expressiva de pesquisadoras na raiz do problema: divulgação científica e o incentivo à participação de estudantes meninas em atividades científicas, de preferência lúdicas e interativas, desde o ensino fundamental. As atividades de extensão entre as universidades e a comunidade se tornam uma oportunidade ímpar para acessarmos jovens estudantes e mudarmos aos poucos esse quadro.”
“O ambiente acadêmico e de pesquisa por muito tempo foi ocupado em sua maioria pelo gênero masculino. Entretanto, as mulheres estão se empoderando deste ambiente e hoje encontramos mulheres cientistas e pesquisadoras realizando trabalhos com projeção nacional e internacional nas instituições públicas e privadas de ensino e pesquisa. É muito importante a presença das mulheres nesse espaço de geração de conhecimento, uma vez que essa ocupação representa o empoderamento do nosso gênero, a quebra de conceitos culturais de submissão e de impedimento ao acesso à educação. Mulher não deve seguir preceitos e aceitar que digam onde ela deve estar… “lugar de mulher é onde ela quiser”... em casa cuidando dos filhos, no mercado de trabalho, no seu empreendimento, e nas cadeiras das universidades: como alunas, professoras, técnicas ou pesquisadoras. A diferença de gênero enriquece as pesquisas e fomentam o conhecimento.
Nos projetos que tenho a oportunidade de colaborar sempre incluo conteúdos e informações sobre o empoderamento feminino, seja com mulheres da comunidade urbana ou rural. Além de oportunizar acesso a conhecimento técnico por grupos de mulheres em projetos de extensão. Nos deparamos com desafios, principalmente culturais, mas com empenho temos conseguido fortalecer e dar autonomia a muitas mulheres em projetos de minha responsabilidade como “Regularização de Produtos da Economia Solidária”; “Feira Interinstitucional Agroecológica”; “Aperfeiçoamento da Cadeira Produtiva do Barú”, dentre outras ações em projetos que não estão sob minha coordenação.”
“As mulheres têm, ao longo da história da humanidade, um papel essencial no cuidado com a vida, seja das pessoas, seja dos animais e das plantas. Têm sido verdadeiras guardiãs da vida no planeta Terra... isso desde sempre, nos cuidados com os filhos, filhas e companheiros(as), na arte e sabedoria de lidar com as ervas e plantas medicinais, também como doulas, irmãs, mães, filhas, amigas, trabalhadoras, cientistas, artistas, políticas.... Em todos os espaços de nossa sociedade, a presença e participação das mulheres fazem a diferença, trazem novos conhecimentos e contribuem para a ciência e para a vida. Rompem paradigmas e enfrentam diariamente o preconceito e o machismo, mas seguem lutando, empoderadas, conquistando seus direitos e defendendo a vida e a paz”.
"Incentivar mulheres a fazerem ciência é de extrema importância. Embora não seja reconhecido pelas sociedades, as mulheres são tão capazes quanto os homens de se tornarem grandes cientistas e de contribuírem com grandes descobertas. As mulheres, tanto quanto os homens, possuem características que são importantes para o pensamento e execução científica, como a perseverança, resiliência, capacidade de executar várias tarefas ao mesmo tempo, além de serem muito intuitivas.
As mulheres cientistas, muitas vezes, têm que se empenhar e se sacrificar muito mais do que os homens, pois muitas têm que dividir seu tempo e dedicação entre a ciência e a família, além de contribuírem, no geral, muito mais do que os homens na execução das tarefas domésticas. Acredito que por ser mulher, filha e mãe, além de ser professora e pesquisadora, já sou uma grande incentivadora das mulheres na ciência. Minhas orientandas e alunas que convivem comigo no dia a dia observam a batalha diária de ser uma mulher cientista. Procuro também entender os desafios pessoais que cada uma carrega e sempre incentivá-las a romper os obstáculos e dificuldades à medida que vão acontecendo. Uma frase que uso sempre é “no final, dá tudo certo”, e realmente sempre dá”.
"A mulher tem uma importância histórica na ciência. No âmbito da saúde diversos estudos foram organizados por mulheres e tem grande impacto na assistência prestada até hoje. Como a ciência tem o papel de mudar o mundo é importante que as mulheres se empoderem para exercer cada vez mais as pesquisas científicas e o importante papel de mudar a nossa sociedade."
"Mulheres são muitas na ciência, e são crescentes, mas esse número pode ser ainda mais expressivo. Há que se construir o caminho com oportunidades, incentivos, valorização e respeito, desde a base. Respeito à maternidade, muitas vezes entendida como uma limitação à carreira, devendo-se sim, considerar como um tempo legítimo dado ao tempo para a natureza feminina gerar e cuidar! Muitos são os desafios, mas a condução da família e carreira tem sido feita com maestria. É importante incentivar as mulheres a fazer ciência sim! Porque o talento, a beleza, a capacidade, a fortaleza e a inteligência são inerentes à natureza feminina, basta cultivá-los. As mulheres na ciência são merecedoras de todas as homenagens, pois produzem frutos que transformam, as contribuições são e serão inúmeras!
"A mulher, cada vez mais, conquista espaço na ciência e mostra a sua competência. Contudo, ainda somos poucas num universo predominantemente masculino. Precisamos que governos, organizações e instituições de pesquisa promovam, estimulem e apoiem a participação de mulheres na ciência, porque já provamos que fazemos a diferença".
"Desde a luta pela emancipação, a partir do século XIX, a mulher vem abrindo frentes de trabalho em praticamente todas as áreas do conhecimento e na ciência não é diferente. O que conta é a vontade de atuar, a busca por formação e a dedicação ao trabalho. A mulher pode isso. Minha área de atuação é sobretudo a moda, mas na pandemia pude experimentar outra abordagem para o meu trabalho no desenvolvimento de produtos de EPIs: a funcionalidade da roupa acima de tudo.
Incentivo as pessoas a descobrirem suas vocações e a lutar para desenvolvê-las. Acho que minha contribuição hoje é mostrar diferentes abordagens para o design de vestuário, incentivando inclusive a criação de produtos de EPIs que demandam materiais mais tecnológicos".
"A mulher tem um grande impacto na ciência. Ela é dedicada, determinada, detalhista e curiosa. E isso na ciência faz toda a diferença na qualidade das pesquisas e na produção científica".
"Vivemos em um país de grande desigualdade social. A educação pode ser considerada peça fundamental para sanar essas dificuldades. Apesar da produção científica feminina ter aumentado nas últimas décadas, ainda enfrentamos muitas dificuldades para inserção no mercado de trabalho e condições de trabalho semelhantes. Acredito que nós mulheres somos o alicerce das famílias e das comunidades como um todo. Dessa maneira, estimular o planejamento familiar e oferecer condições mínimas para a segurança alimentar dos indivíduos, possibilita a busca por educação e o interesse pela ciência por boa parte das brasileiras que ainda não tiveram essa oportunidade. Como professora, busco sempre estimular a busca constante pelo aprendizado e a realização de qualquer tipo de trabalho com amor, de maneira a nos melhorarmos constantemente e influenciarmos de maneira positiva a vida daqueles que estão ao nosso redor."
Fonte: SECOM
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