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Projeto da FEN estuda idosos com 90 anos ou mais em três cidades de Goiás

Atualizada em 21/05/25 12:08.

Iniciativa avalia qualidade de vida, saúde e rede de cuidados dos mais longevos, com impacto na formação de profissionais e nas políticas públicas

Por Jayme Leno

Com o aumento da longevidade no Brasil, a Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (FEN/UFG) iniciou um projeto que estuda as condições de vida, saúde e cuidado de pessoas com 90 anos ou mais nos municípios goianos de Goiânia, Catalão e Urutaí. A ação tem como finalidade principal integrar usuários da Atenção Primária à Saúde (APS) com esse público, seus cuidadores familiares e os profissionais que atuam nos territórios onde estão cadastrados, promovendo um cuidado mais qualificado e equitativo.

A equipe é composta pela coordenadora, professora Valéria Pagotto, da FEN, e conta com uma equipe multidisciplinar formada por pesquisadores, colaboradores e estudantes de graduação e pós-graduação. O projeto é financiado pelo CNPq, por meio da Chamada Pública nº 21/2023, com o título “Capacidade intrínseca, fragilidade e demanda de cuidados em idosos com 90 anos ou mais: estudo de coorte”. “Essa proposta está vinculada à iniciação científica e também contribui para a formação de estudantes da pós. A ideia é fortalecer a produção de conhecimento sobre envelhecimento no estado de Goiás, onde ainda há poucos recursos humanos nessa área”, afirma a coordenadora.

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A docente destaca que a APS, por ser a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), possui potencial para oferecer um cuidado contínuo e vinculado às realidades individuais, familiares e comunitárias. A iniciativa surgiu a partir de inquietações observadas ao longo da carreira da pesquisadora. “Venho pensando nesse projeto há pelo menos cinco anos, especialmente ao perceber, tanto nos dados do IBGE quanto no cotidiano profissional, que muitos idosos em idade avançada precisam de cuidados, mas ainda sabemos pouco sobre a complexidade dessas demandas”, explicou.

O estudo permitirá identificar lacunas no atendimento e criar estratégias de formação e atuação que superem desigualdades e enfrentem as barreiras impostas pela idade avançada. Valéria destaca que a proposta contempla três públicos: os idosos longevos, seus cuidadores familiares e os profissionais de saúde. “Quis fazer uma proposta em que a gente tivesse um olhar para o idoso e para esse familiar também, que é uma pessoa que sempre fica sobrecarregada”, pontua.

Segundo a pesquisadora, é comum que o cuidado com idosos fique concentrado na família, como no exemplo que ela traz: “Na minha casa, a minha mãe cuida da minha avó, que é muito velha. Esse cuidado é quase sempre atribuído a um familiar.” O projeto prevê estratégias de divulgação dos resultados para alcançar não só gestores e profissionais de saúde, mas também a população em geral. “Vivemos uma invisibilidade das pessoas mais velhas, inclusive no âmbito da família. Às vezes, as pessoas acham que, por estarem em idade avançada, não é mais necessário fazer nada por elas. A gente quer trabalhar justamente contra essa ideia”, afirma Valéria.

A coleta de dados ocorre em unidades básicas de saúde dos três municípios e permitirá avaliar uma ampla gama de fatores: desde a funcionalidade e nutrição dos idosos até a sobrecarga dos cuidadores e as práticas dos profissionais de saúde. “Estamos entrevistando também os profissionais de saúde da atenção básica — enfermeiros, médicos e agentes comunitários — sobre como é o atendimento a esses idosos nas unidades”, contou.

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A escolha das três cidades — uma capital (Goiânia), um município de porte médio (Catalão) e outro de pequeno porte (Urutaí) — permite à pesquisa captar diferentes realidades demográficas e de acesso aos serviços de saúde. Enquanto Goiânia tem mais de 4.600 idosos com 90 anos ou mais, Urutaí conta com apenas cinco pessoas nessa faixa etária, de acordo com o IBGE (2023). Ela ressalta: “Nos baseamos nas metas da Década do Envelhecimento Saudável, proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e na urgência de reconhecer os fatores que contribuem para uma longevidade com qualidade de vida.”

Além do mapeamento de condições como fragilidade, multimorbidades e dependência funcional, o estudo também visa identificar aspectos positivos do envelhecimento, como o otimismo, a rede de apoio e a participação social. “A gente quer dar visibilidade a essas questões e mostrar que o envelhecimento pode, sim, ser uma fase vivida com qualidade, apesar das doenças e limitações”, defende Valéria.

A coordenadora também relata como as entrevistas com os idosos têm impactado pessoalmente os membros da equipe. “Todos os idosos que entrevistamos deixam uma marca na gente. São pessoas da década de 1930, com histórias de vida muito diferentes das nossas. Alguns viveram em situações de muita dificuldade, com pouco acesso à educação; outros cuidaram de muitos filhos; e alguns ainda hoje andam de bicicleta 40 quilômetros. Cada um deles nos faz pensar na nossa própria vida.”

Fonte: Comunicação FEN UFG

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