Pesquisa da Faculdade de Enfermagem (FEN/UFG) é notícia de destaque na universidade!
Pesquisas da Faculdade de Enfermagem mostram necessidade de estabelecer uma cultura de segurança para controle do risco biológico
Contaminação por material biológico: por que se abandona o tratamento?
Caroline Pires
Ser profissional de Saúde implica em um risco iminente de sofrer acidente com material biológico, especialmente para os profissionais da Enfermagem que frequentemente entram em contato com secreções no cuidado com o paciente. Mas os caminhos do risco não param por aí, estudantes de graduação e trabalhadores de serviços gerais também estão sujeitos a se contaminar durante as suas rotinas. Pesquisa da Faculdade de Enfermagem (FEN/UFG) analisou mais de dois mil exposições acidentais notificadas entre os anos de 2006 e 2016 em Goiânia e constatou que 41% dos acidentados abandonam o acompanhamento clínico-laboratorial, indicado após um acidente com material biológico. A elevada taxa de abandono reforça a necessidade de adoção de estratégias para garantir a conclusão do tratamento e a redução das situações de risco, sejam entre profissionais e estudantes de Saúde.
A pesquisa aponta ainda que os trabalhadores com carteira assinada, com mais de 40 anos, pertencentes às equipes de Enfermagem, Odontologia e do serviço de limpeza e aqueles que não estavam utilizando o avental no momento da exposição são mais propensos a abandonar o tratamento. Outros fatores que contribuem para isso é sofrer lesão com outros objetos que não sejam agulha e a não comunicação do acidente de trabalho. Tatiana Sardeiro explica que os profissionais têm uma tendência a fazer avaliação prévia da própria exposição: “Essa é uma condição de risco não só para os acidentes, mas também para as pessoas do convívio dela”, completou. A preocupação maior da pesquisadora é com os profissionais responsáveis pela conservação e limpeza, tendo em vista a alta rotatividade, a baixa compreensão dos riscos envolvidos no trabalho e o fato de predominantemente a pessoa-fonte ser desconhecida.
Os dados demonstraram ainda uma falha na rede de atendimento desses indivíduos. Entre 2006 a 2016, foram realizadas mais de 8 mil notificações em Goiânia, destas quase 4 mil tinham deficiência no registro. “Isso mostra o grave problema com relação a organização do próprio estado para o acompanhamento dessas pessoas”, afirmou a professora Anaclara Tipple, orientadora da pesquisa e que há mais de 20 anos pesquisa acidentes com material biológico.
Orientadora da pesquisa Anaclara Tipple e Tatiana Sardeiro responsável pela pesquisa (Foto: Caroline Pires)
Cultura de segurança desde a graduação
As pesquisadoras reforçam que é preciso que todos os envolvidos, tanto no atendimento quanto na prevenção e promoção da saúde, estejam esclarecidos quanto aos riscos envolvidos na profissão. “É preciso desenvolver uma cultura de segurança em relação ao vínculo profissional e ao acompanhamento do acidentado. Quem notifica deve se responsabilizar por garantir o atendimento completo, e não só de imediato”, afirma Anaclara Tipple.
Segundo ela, ainda há pontos que precisam ser aprimorados na legislação, especialmente quanto ao uso de óculos de proteção e nas normas que colocam como responsabilidade do profissional avaliar os riscos envolvidos nos procedimentos. Ela destaca que muito se fala sobre a contaminação por perfurocortante (como lâminas e agulhas), mas que as mucosas devem receber a atenção necessária, pois situações atípicas de contaminação são mais comuns do que se imagina. “Já tivemos, por exemplo, o acidente com uma estudante de Enfermagem que acompanhava um parto a mais de dois metros de distância e com outros que observavam o processo corriqueiro de intubação de paciente”, lembra. Outro exemplo inerente à prática de enfermagem, é a punção venosa, a indicação para o uso de óculos para realizar esse procedimento não está claramente estabelecida, entretanto exposições em mucosas são muito comum.
Lutando há anos para que sejam estabelecidos protocolos de proteção também para os estudantes de graduação e cursos técnicos em saúde, a professora afirma que esta é uma lacuna que precisa ser preenchida de forma urgente. “É preciso construir um modelo de gerenciamento de riscos para aqueles que ainda estão em formação. Estamos trabalhando para conseguir implementar na Faculdade de Enfermagem da UFG um protocolo modelo com relação a isso”, concluiu.
Fonte: Jornal UFG
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