O dia em que a ciência do cuidar se mostra

É uma escolha difícil a de viver em função das enfermidades alheias. Felizmente, enquanto a maior parte das pessoas se organizam para ter condições de correr na direção contrária do desequilíbrio, do sofrimento, algumas optam e se preparam para enfrentá-los. A palavra enfermagem deriva do latim infirmus, mas podemos estender o saldo em ouvir esse chamado à busca por firmeza e solidez (torna firme quem não está nesta condição). É a aceitação de que se tornou, com trabalho e a disposição aprendente às ciências, o ponto de referência nos momentos de fragilidade de outros inquilinos em nosso planeta.

A Enfermagem traduz numa carreira tudo que se espera quando se tenta explicar o que é solidariedade e fraternidade, aliada à cientificidade. E não por acaso está associada à força e coragem: Harriet Tubman e Dorothea Dix (Estados Unidos), Florence Nightingale (Enfermeira Britânica que nasceu em Florença/Itália e retornou para Inglaterra ainda criança), Anna Nery (Brasil), construíram este legado nos campos de batalha do século XIX, intuindo pela profunda sensibilidade humanitária os princípios que hoje regem a carreira. Completa-se no incrível trabalho sistematizador (e inspirador) de profissionais como Virginia Henderson (criadora da teoria dos 14 componentes do cuidado), Claire Bertschinger  fundadora do Live Aid, maior programa de ajuda humanitária da história) e Wanda de Aguiar Horta (brasileira que estabeleceu a teoria das necessidades humanas básicas).

Algo fundamental para o enfermeiro/enfermeira é a disposição para o conhecer, a capacidade intelectiva de criar soluções e respostas seguras, estratégicas na promoção da saúde e cirúrgicas na prevenção dos agravos. Preparam-se por anos para reconhecer, assistir e agir qualificadamente nas situações mais delicadas. O estudo contínuo deve garantir atenção plena. Os sentidos devem acompanhar e garantir o cuidar, num contínuo treinamento para rearmonizar os corpos em suas várias dimensões. Significa, portanto, que o enfermeiro e enfermeira, além de conhecer profundamente as técnicas e tecnologias dos processos de cura, deve associá-las de forma holística e 1 Por Prof. Dr. Elson S. S. Carvalho, técnico em assuntos educacionais da Faculdade de Enfermagem/UFG. integrada. As respostas adequadas vêm das combinações de saberes testados e vivências consolidadas, não de manuais estanques. São cientistas inovadores de fato, porque não somente operacionalizam as ciências da saúde, tensionam e fundem as bases do conhecimento ao diálogo, até que consigam alcançar a individualidade de cada pessoa em restabelecimento.

  
A Universidade Federal de Goiás (UFG) funde sua história com a formação qualificada e diferenciada em Enfermagem. É uma das referências nacionais e internacionais em pesquisas, incorporada a um profundo senso de integração e aproximação com a sociedade. Ciência visível e sensível. Resulta do esforço de um ensino diferenciado, que a consolida como faculdade de ensino com maior relevância, tradição e impacto na região Centro-Oeste. A Faculdade de Enfermagem (FEN) forma enfermeiros e enfermeiras capacitados curricularmente para domínio de todas as diretrizes sugeridas nacionalmente, o que é atestado pela presença em muitos espaços gerenciais e de alta complexidade decisória em âmbitos privados e públicos. A ligação com a FEN se estende à vida: uma verdadeira Alma
Mater ao qual seus egressos mantém relações permanentes: seja na atualização, aperfeiçoamento, seja na participação ativa em seus grupos de pesquisa, ligas e atlética. Seus colegas se tornam uma família, mesmo que de diferentes gerações.

Essa apaixonada narrativa é percebida por qualquer visitante do Espaço das Profissões, mostra anual da UFG que apresenta o perfil de seus cursos de graduação. No ano de 2018 (dias 25 e 26 de junho), a equipe de servidores docentes, técnico-administrativos e discentes mostrou a unidade que a História da FEN orgulhosamente compartilha. Na palestra de abertura, a diretora, prof. Dra. Claci Rosso e coordenadora da graduação, prof. Dra. Regiane Barreto, estenderam o convite a conhecerem melhor as potencialidades de ação em enfermagem. Para garantir uma imersão com o toque característico e inquestionavelmente humano que os define, foi produzida uma sala interativa com algumas áreas de atuação, para demonstrar a complexidade e diversidade de caminhos possíveis ao ingressante.

Aproveitando o espaço para sensibilizar e promover a saúde da criança e da mulher de forma emancipatória, estende-se nas atualíssimas e necessárias práticas integrativas, na criativa profilaxia da lavagem das mãos, nas técnicas para prevenção de infecções sexualmente transmissíveis e na educação em saúde que sensibiliza para a importância da doação de órgãos e de primeiros socorros seguros (para que ninguém “só corra” quando houver complicações). Ainda, na reflexão sobre as fragilidades e conquistas impressas no funcionamento do Sistema Único de Saúde e nas possibilidades de pós-graduação, o holograma de atuação convida ao respeito à profissão.

Não é de se estranhar que o convite se some às vocações dos estudantes, ávidos para descobrirem-se. Para a coordenadora da participação da FEN no Espaço das Profissões, prof. Dra. Jacqueline Leão Cordeiro, a satisfação em dividir sua razão de existir, bem como a paixão e empenho envolvidos, valem muito mais que a mera contribuição num evento. É uma oportunidade de reconhecimento e de valorização, um movimento necessário para que cada vez mais os espaços permitam enxergar a competência e importância das “pessoas que cuidam de pessoas”. A maior força de trabalho em saúde é também a mais sensível, ativa e envolvida, sem dúvida. E está aberta àqueles que comunguem dessas perspectivas e tenham a disposição para aprimorar aquilo que já sentem.